segunda-feira, 24 de março de 2008

Os 200 anos da Imprensa Régia

“A revista moralista
mostra uma lista
dos pecados da vedete
E tem jornal popular
que nunca se espreme
porque pode derramar
(...)
É somente folhear e usar”
(TomZé - “Parque industrial” - 1967)

OS 200 ANOS – que ora comemoramos – da chegada ao Brasil da família real portuguesa, posta para correr da Europa por Napoleão I e escoltada até nossos portos seguros pela Marinha inglesa, suscitam reflexões sobre vários dos seus aspectos. O mais óbvio, sem dúvida, é a abertura dos portos a nações amigas (leia-se Inglaterra), anunciada ainda na escala feita em Salvador, antes mesmo da corte chegar ao seu destino, o Rio de Janeiro, cidade elevada repentinamente a capital do Reino Unido a Portugal e Algarve. Isto é, a capital do Império Português.

Nos velhos livros escolares brasileiros, essa fuga ganha o título quase mágico de “A Transmigração da Família Real para o Brasil”, do mesmo modo que a debandada, alguns anos depois, das forças de Duque de Caxias – O Pacificador –, nos é apresentada pomposamente, pela historiografia oficial, como “A Heróica Retirada da Laguna”.

Ah, o que são capazes de construir as palavras!

Na verdade subproduto do prolongamento e expansão da revolução burguesa na Europa, e das aspirações imperiais da França napoleônica que pretendia, através da Península Ibérica – e especialmente através de Portugal –, pôr de joelhos (e fazer rezar) a “Loira Albion”, a chegada da caravana marítima de reinóis lusos acabara por imprimir uma nova dinâmica à velha colônia, acelerando inclusive seu processo de independência monitorada por Londres, na medida dos seus interesses.

Disso tudo, porém, nos diz respeito particularmente, neste momento, apenas um dos atos do príncipe regente João VI, que governava em substituição da senhora sua mãe, dona Maria I, acometida de insanidade mental, o que lhe valeu desde então o epíteto de A Louca. Falamos da criação da Imprensa Régia, em 13 de maio de 1808, pouco depois do desembarque no Rio.

Ainda que de caráter absolutamente oficial, a Imprensa Régia significou a primeira vez que se imprimiu legalmente no Brasil – o primeiro jornal privado legal e não submetido diretamente aos governantes ou ao Estado, em nosso país, só passará a existir três anos após a independência. Foi o Diário de Pernambuco, fundado em 1825.

As elites sempre souberam da importância e do poder dos meios de comunicação. Por isso mesmo, logo depois da chegada dos portugueses, em abril de 1500, Lisboa garantiu para si alguns monopólios estratégicos na sua nova colônia. O monopólio da terra, da exploração das riquezas, do comércio e da comunicação. No que diz respeito a esse último, todo e qualquer material estava proibido de ser impresso no país – sob pena, inclusive, de punição com morte dos infratores da norma.

Ou seja, Portugal paria assim quadrigêmeos siameses, fantasmas que rondam a classe trabalhadora e o povo brasileiro desde sempre: a propriedade monopolizada da comunicação, da terra, da produção/exploração e do comércio, que depois do período da colônia, passarão a ser controladas inicialmente pelos capitais locais, para hoje – e desde há algum tempo – serem oligopolizadas e apropriadas pelo grande capital internacional.

Mas, apesar de tudo, os trabalhadores e o povo brasileiro poderemos de algum modo comemorar pequenos avanços no dia dos 200 anos de fundação da Imprensa Régia:

1. A grande mídia brasileira é hoje a instituição nacional mais desmoralizada e menos confiável para amplos setores da população.

2. A principal revista de circulação nacional, a Veja (Editora Abril), com sua redação povoada por “nossas antas” e outros energúmenos, além de só ter crédito junto à ultradireita, está sendo alvo de absoluto achincalhamento, através de um dossiê do jornalista Luís Nassif, que invadiu e se expandiu via internet, não apenas Brasil afora, mas por todo mundo (veja o dossiê - http://luis.nassif.googlepages.com/).

3. A Rede Globo (Organizações Globo), o poderoso império construído pelo senhor Roberto Marinho em troca de apoio e outros favores aos sucessivos governos da ditadura, além de reconhecida publicamente pela contumaz falsificacação das informações que transmite, é hoje acusada formalmente e conduzida às barras dos tribunais por estelionato. De acordo com seus acusadores, a poderosa Rede Globo falsificou documentação de compra da antiga TV Paulista (leia reportagem - http://www.brasildefato.com.br/v01/impresso/jornal.2008-03-13.1254343899/editoria.2008-03-13.0408421018/materia.2008-03-14.8780657646/).

Aguardemos até o dia 13 de maio. Quem sabe nos estejam reservadas outras boas surpresas. Mas, em sendo tudo “briga de branco”, acabará tudo em pizza?

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