sexta-feira, 2 de abril de 2010

A RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO

O Direito Penal, ramo de Direito Público, é um conjunto de normas jurídicas que regulam o poder punitivo do Estado, definindo as infrações penais, estabelecendo as penas e as medidas de segurança, cuja finalidade é a tutela dos bens jurídicos fundamentais, como por exemplo, a vida, a integridade física, a honra, o patrimônio, entre outros.

No que diz respeito às penas, o Brasil adotou a Teoria Mista ou Eclética, a qual observa na pena três finalidades, quais sejam prevenir, retribuir e ressocializar o preso. Tal ressocialização é fundamental para trazer o infrator de volta à sociedade, para reintegrá-lo ao meio social depois de cumprida a pena, fazendo com que ele não volte a delinqüir. Entretanto, não é o que vemos acontecer diariamente aos milhares de presos libertos, que se assemelham aos escravos na época da abolição quando “ganharam” sua carta de alforria e que com ela mal sabiam o que fazer, preferindo muitas vezes voltar a ser escravos, para pelo menos ter onde dormir e o que comer, condição primordial para a sobrevivência.

Os presos ganham a liberdade, porém sem nenhum tipo de garantia, sem nenhuma segurança de que terá um emprego, de que conseguirá se sustentar ou sustentar sua família. Passam anos e anos presos, sem nenhum tipo de aprendizado, sem nenhum tipo de aperfeiçoamento profissional e, quando saem às ruas, o óbvio acontece: voltam a delinqüir e viram notícia em jornais sensacionalistas, provocando a revolta da população que insiste na aplicação de penas mais graves, aclamando muitas vezes pela prisão perpétua e até pela pena de morte, julgando o Direito Penal como remédio para todos os males da sociedade, como ferramenta de vingança, se esquecendo de que o Estado é falido em termos de políticas públicas, mantendo em péssimas condições nossas escolas, hospitais, transporte público, presídios e tudo o mais utilizado pela população em geral.

Não estou defendendo a criminalidade, porém será que não estamos diante de um tipo de prisão perpétua, já que, uma vez condenado, o indivíduo jamais conseguirá um emprego digno, jamais poderá prestar um concurso público, jamais será tratado como uma pessoa normal, sempre será discriminado e visto como um ex-presidiário, passando o resto da vida à margem da sociedade, tendo como única alternativa de sobrevivência a vida criminosa?

É evidente que a ressocialização, extremamente fundamental para o indivíduo, aqui no Brasil não passa de teoria, já que vemos presídios superlotados, com os apenados em condições desumanas e cruéis, o que, ao invés de corrigi-los, os torna piores a cada dia.

Precisamos enxergar o Direito Penal como uma ferramenta a ser utilizada para o bem de toda a sociedade, inclusive para os que estão presos, e não como uma ferramenta de vingança ao dispor do povo; precisamos colocar em prática idéias que incentivem tanto presidiários, como ex-presidiários a estudar e a trabalhar, já que a prisão, por si só, de nada adianta. Os presos precisam se qualificar, precisam ter vagas garantidas nas escolas, faculdades, universidades, empresas públicas e privadas, pois só assim terão uma vida digna e dificilmente voltarão a cometer crimes.

UM TEMA POLÊMICO NA SOCIEDADE ATUAL: A LEGALIZAÇÃO DO ABORTO.

Sou totalmente a favor da legalização do aborto, seja nos casos de gravidez decorrente de estupro ou gravidez de risco, já amparadas pela legislação, seja nos casos de gravidez de feto anencefálico ou mesmo a gravidez indesejada, pois a mulher é quem deve decidir se quer levar adiante ou não uma gravidez, já que seu corpo e sua vida estão em jogo, não cabendo a mais ninguém tal julgamento.

Esse é um debate um pouco utópico, pois todos sabemos que abortos acontecem diariamente, sejam em hospitais de classe média-alta, sejam em clínicas clandestinas e aí reside a grande diferença: a mulher de classe alta fará o aborto e ficará “hospedada” num renomado hospital e terá um ótimo tratamento médico, saindo de lá pronta para fazer compras num shopping e se livrar do stress; já a mulher pobre irá a uma clínica clandestina, terá um tratamento digno de tudo, menos de ser humano, de lá será enxotada ainda com hemorragia e com dores, para que ninguém corra o risco de ser preso, e ainda ficará com seqüelas tanto físicas, quanto psíquicas, para o resto da vida.

Devemos enxergar que o aborto não é uma questão religiosa e que tais discursos devem ser abolidos, pois o que se deve levar em conta é a vida dessa mulher, que será obrigada a ter uma gestação e trazer ao mundo um filho que não quis e que por conseqüência, poderá maltratá-lo, ignorá-lo ou mesmo abandoná-lo nas ruas.

Não digo que a gravidez não deva ser evitada, recorrendo-se sempre ao aborto, afinal, temos vários métodos contraceptivos eficazes, entretanto, negar tal direito é extremamente injusto, tanto para com a mulher, quanto para a criança.

Se a maioria das pessoas se revolta tanto quando o assunto é legalização do aborto, argumentando que se estaria matando um ser humano, por que esses mesmos demagogos são os primeiros a pedir pena de morte aos menores infratores quando cometem crimes? Não se trata de seres humanos também? E os menores de rua, abandonados pelas mães, que talvez não tenham querido tal gestação, não são seres humanos? Por que então religiosos e afins não fazem campanha a favor da adoção, para tirar crianças JÁ NASCIDAS da miséria, das drogas e da provável morte? Ao invés disso, fecham a janela do carro e fecham os olhos para essas crianças. Então, por que todo esse circo, toda essa demagogia em torno do aborto?

Legalizar o aborto é enxergar e regularizar a dura realidade já vivida no país.

GLOBALIZAÇÃO, DIREITO E DISTRIBUIÇÃO DE RENDA

Como a globalização é a integração entre os vários países, especialmente no que diz respeito à produção de mercadorias e serviços, mercados financeiros e à difusão de informações e o Direito é o conjunto de normas jurídicas vigentes num país, que tem como principal fundamento a pacificação social, posso dizer que ambos estão intimamente ligados e que o Direito é totalmente afetado pela globalização, já que, com ela, as sociedades vão se modernizando cada vez mais e, com isso, as legislações existentes também precisam se modernizar para que acompanhem tais evoluções, que afetam tanto o direito de contratar, como o direito do trabalho, o direito do consumidor, e todos os outros ramos jurídicos.

Entretanto, se por um lado a globalização tem seus aspectos positivos, já que moderniza as tecnologias existentes nas sociedades e amplia a oferta de produtos disponíveis no mercado, por outro é prejudicial, pois aumenta em muito a competitividade entre as empresas, obrigando-as a se modernizar e a reduzir seus custos, barateando o valor da mão de obra e produzindo mais produtos com menos funcionários, fazendo com que os trabalhadores percam seu espaço no mercado de trabalho, gerando assim o alto nível de desemprego que vemos atualmente, e, em conseqüência disso, vão se aumentando as desigualdades sociais, pois, ao que parece, a distribuição de renda, que é a divisão das riquezas produzidas num determinado país, não passa de ilusão, especificamente no Brasil, que é um dos países mais desiguais do mundo, cuja riqueza se concentra nas mãos de uma minoria da população, que domina e manipula o governo e os meios de comunicação, garantindo assim sua rica subsistência e permanência no controle do capital.

É incontestável que a globalização facilita o acesso às informações e às novas tecnologias, que moderniza as sociedades e, por conseguinte o Direito, todavia, que garantia temos de que tais informações chegam à todas as classes sociais com clareza, sem quaisquer tipo de manipulação? Será que num país tão desigual o acesso à justiça, bem como as garantias constitucionais e Tratados Internacionais a respeito dos Direitos Humanos se estendem a todos? Receio que as respostas sejam negativas...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

As cores da África-Brasil

Pedi dois copos. Enchi o meu de cerveja, e deixei o outro vazio junto à garrafa. Não demorou muito para que um jovem se aproximasse da minha mesa

Augusto Juncal

Atravessando uma ponte sobre um esgoto, cruzando uma larga avenida confusa de carro e de gente, sob um sol quente que nuvem nenhuma amenizava, do outro lado da avenida eu avistei o começo de Thokozo. Só mesmo um olhar atento, de corte de navalha, para delinear com clareza cirúrgica, e de claridade de céu africano, a confusão da avenida que passava paralela à Thokozo, e a própria confusão do township aglomerada na sua porta de entrada.

Sua porta de entrada era um imenso portão metafísico que sinalizava: você está entrando no township de Thokozo. Talvez seja bem-vindo. Talvez não. Depende de quem você seja e do que você quer aqui. Nesse twonship não há pacotes turísticos. Se é isso que você procura, dirija-se a Soweto. Hambakahle.

Towship, uma intradução. Uma condição humana materializada em... bairro? aglomeração? gueto? favela? periferia? cidade-satélite? campo de concentração? De quem? Dos brancos? Dos capitalistas? Dos brancos e capitalistas? Dos negros e capitalistas? De quem? Township é uma intradução porque é cidade-satélite, é periferia, é favela, é gueto, é holocausto. E se é preciso buscar as causas, as conseqüências estão ali. Sem esforço nenhum para a percepção. Mesmo para as mais embotadas.

Passei por aquele imenso portão, portão para iniciados, com a segurança de quem está com o passaporte carimbado com visto de entrada. Sibusiso era meu passaporte com visto de entrada. Negro e morador local. Com ele entrei. Havia outros motivos, outras razões para minha segurança. Uma confiança em algo que havia em mim, que naquele momento me era obscuro. E que ainda não tenho identificado. Que ainda é negativo de foto não revelada.

Quando entramos em Thokozo havia muita música. Vários bares, várias músicas. Em um deles identifiquei Zola. Noutro, Hip Hop Pantsula. Tuks. E em outro, o gospel da Rebecca. Pensei no Brasil. Vivemos num país onde a mídia tenta banalizar todas as coisas: a política, a sensualidade, a sexualidade, o afeto, os sentidos diários da vida.

Einstein explica
De São Paulo a Johannesburg tudo me pareceu a mesma realidade reproduzido-se a si mesma. Mas os townships eram novas realidades que começava a conhecer. Estava em Thokozo, e, incrível, estava em Guaianazes. Poderia estar. Como sou do muito pequeno e seleto grupo que sai da universidade contemporâneo de Einstein e não mais de Newton, aceitei, sem problemas a possibilidade de meu corpo único, ocupar dois espaços ao mesmo tempo. Mas claro, nada se repete. Nem o Sol, nem a miséria. Todas as misérias são una, e são cada uma, uma.

Debaixo daquele Sol e diante daquela expressão da pobreza, eu me perguntei: “Como é possível uma militância política divorciada dos códigos simbólicos, presentes todo o tempo nos cotidianos?”.

A vivência nos centros e nos bairros periféricos de nossas cidades, debaixo dos viadutos e dentro de guetos, revelam-me imagens que antes eu nunca vi. Não poderia ver. Imagens do abandono e da fome que transcendem o corpo físico e o texto específico dos atores. Será que a questão é só a falta de dinheiro ou de trabalho? Será que são esses itens que movem um povo a revolucionar sociedades como as nossas?

Penso que a exclusão social, se é que posso usar essa expressão sem a explicar, sugere outras condições humanas, que estão dentro dos sentimentos, dos gestos, do ser e estar na vida desprovida. Estes contatos diários com o lixo, os cheiros que exalam dos esgotos, a angústia da sobrevivência, os medos de não amanhecer, enfim... parecem inscrever formas de sentir no mundo não só desprovido, mas sem qualquer alento, sem qualquer esperança. A única maneira de estar vivo é na alegria, na criatividade da alegria... e aí a mídia pega pesado... e de todos os lados. Por que vamos acreditar na contaminação, se a nós é dado perceber um cotidiano de modo subjetivo? E a maioria dos militantes de esquerda? ... Que tão-pouco se conhecem a si mesmos? Pouco se miram ou fingem em si (sem o saber), um outro personagem, fora, externo ao seu, para explicar, para representar, uma condição que nem sempre “conhece”, ou não a sente...de um Outro?...Talvez por esta razão estejam cansados, ausentes, entregues.

Meandros próprios
Vou me aprofundando ruas adentro e vou pensando: “Quem vive em São Paulo pode viver em qualquer cidade do mundo”. Inverdade! “Quem anda com uma certa segurança de si em Capão Redondo, Jardim Elba, Glicério, e Gato Preto, não tem porque temer as ruas de Johannesburg. Nem dos townships.” Inverdade! Os acúmulos da miséria têm meandros próprios de culturas e materialização local que uma mente forasteira pode não perceber. Não sentir.

Em São Paulo, a pobreza faz privado um espaço que é público. Sempre que passo muito próximo a um morador de rua, tenho a desconcertante impressão que estou entrando numa casa sem ser convidado. Mas eu, ali, em Thokozo, queria fazer público um espaço que era privado. Queria fazer minhas, as ruas para as quais eu era estranho. E pior que estranho, um branco para eles.
Thokozo e todos os townhips de África do Sul eram dos negros. Deles somente. Eram espaços privados. E eu queria me apropriar deles. Não. Na verdade queria ser apropriado por eles.

Manifestei meu desejo por uma cerveja bem gelada. Sibusiso me deixou na casa de sua irmã. Uma irmã de pouco e curto inglês. O inglês era uma condição sócio-educacional. Às vezes, tinha a impressão de que entendia o que ela me falava em zulu. E respondia. Muitas vezes, acertei na reposta.

Uma cerveja, please
Meu amigo me deixou em casa e foi visitar uma velha tia. Quis ficar e quis tomar cerveja. “Você não pode sair só. Se quiser tomar uma cerveja, minha irmã vai com você. Você compra e volta para beber aqui em casa. Não quero que você sofra nenhuma agressão verbal. Ou mesmo física.” Disse e foi na direção da casa de sua tia, sua irmã foi arrumar o quarto em que eu ia dormir, e eu fugi para o barzinho mais próximo.

Andei por duas, três ruas, seguido por olhares que não soube identificar. Mapeei quatro ou cinco botecos. Escolhi o mais cheio de pessoas e de música. Entrei. Pedi uma Castle no balcão. Um balcão protegido por grades. Todos os bares eram assim: te serviam por trás de grades. Apenas um espaço aberto para a passagem do dinheiro e da cerveja. “Uma Castle, please.” Não tinha. “Heinenken? No. Eu quero south african beer.” “Ah! Hansa.” “South african?”, perguntei. “South african.” “Ok. Hansa.”, então. Ele trouxe, me cobrou e eu pedi dois copos. “Ngiyabonga”, agradeci dizendo obrigado em zulu. Ele respondeu e sorriu. Me sentei, enchi o meu copo, e deixei o outro vazio junto à garrafa.

Não demorou muito para que um jovem se aproximasse da minha mesa. De pé, com seu copo de cerveja na mão, falou pra mim. Eu não entendi. Mas vi a agressividade do seu tom, e seus olhos quase imóveis, fixos sobre mim. O rapaz do balcão intercedeu falando alguma coisa que também me escapou dos sentidos. Senti que chamava o outro à atenção. O rapaz à minha frente respondeu pra ele, e tornou a me falar. Todos no bar olhavam. Posso ter um problema sério agora, pensei enquanto mantinha meu olhar firme no olho do rapaz. “Igama Iami ngu Augusto. Ngubami igama lakho?” (Meu nome é Augusto. Qual o seu?). Senti um vacilo de confusão no olhar. Não dei tempo e estendi a mão, dizendo: “Unjani?” (Como você está?). Seu olhar era menos inquisidor, e até vislumbrei, com um pouco de esforço, um sorriso zulu no fundo de suas pupilas negras, para as quais eu olhava intensamente.

Sem me responder e sem me estender a mão, perguntou: “Uphumaphi?” (De onde você é?). “Brasil”. E ele falou mais. Mas minha cota de zulu tinha acabado. Tinha na manga apenas mais uma frase para uma urgência e fui logo desembolsando ela: “Ngisagala ukufunda isiZulu. I speak isiPortuguese and isiEnglish.” (Apenas comecei a aprender zulu. Falo português e inglês). Soltei meu melhor sorriso. Agora sim, seu olhar tinha vacilado bastante. Era a hora do golpe final: “I don't undersand what you said. But if you are inviting me to drink a beer with you, let me invite you to drink a beer with me” (Não entendi o que você falou, mas se você me estiver convidando com uma cerveja, deixa eu convidar você com uma).

Enchi o copo vazio, que aguardava sua hora. Ele recebeu o copo. “Brasil? Ronaldinho!”. Bati a mão no peito da camisa que vestia e disse: “Ronaldinho no! Corinthians!”. E aqui começou uma amizade construída a partir da desconfiança e em segundos. Tinha agora um novo carimbo no meu passaporte: “Augusto, Igama Iami ngu Bhekithemba”. Disse e me estendeu sua mão imensamente negra. Estendi-lhe, outra vez, minha mão marrom. Da cor do apartheid do meu país.

Augusto Juncal é integrante da torcida organizada Gaviões da Fiel e do Coletivo de Projetos Internacionais do MST.

PARA ENTENDER
Township – Durante o apartheid racial da África do Sul, townships eram cidades-dormitório da periferia onde moravam negros e negras. Para ir trabalhar nas grandes cidades, precisavam “passe”. Com o fim do apartheid racial, permaneceu o apartheid econômico e social. Hoje as negras e os negros pobres continuam a viver nos townships.

Zola, Hip Hop Pantsula, Tuks e Rebecca são músicos sul-africanos

Orgulho de ser brasileiro

Tenho tentado descobrir a origem da expressão "eu tenho orgulho de ser brasileiro", tão falada entre o povo e entre a mídia... Penso... Penso... E não encontro nenhuma resposta!

Será que todos têm orgulho por morar no "país do futebol"? É uma hipótese, já que o país pára quando acontecem os jogos e acho que até os cérebros das pessoas também param, porque não é possível que se esqueçam de todos os problemas por causa de 90 minutos de futebol...

Outra hipótese pode ser também por viverem no "país do Carnaval", afinal quando as escolas de samba estão na avenida, tudo é festa!!! E dá-lhe mulatas, samba e cerveja... Mas a festa uma hora acaba...

Pobres pessoas que por meros detalhes se esquecem que vivem no país mais desigual do mundo. Se esquecem que existem milhares de pessoas morrendo de fome e frio, sem nem ao menos uma casa para morar, sem um salário digno para se sustentar e sustentar sua própria família. Se esquecem de que os serviços públicos não possuem qualidade nenhuma, que as crianças saem das escolas sem saber ler ou escrever corretamente e ainda que saibam, não consegue entender e interpretar textos simples, que os hospitais não possuem condições de atender a população, que os salários de fome que os trabalhadores ganham, não dão nem para comer!

O pior de tudo é ver pobres se sentindo como se fossem da classe média, se sentindo informados porque lêem uma revista que prestigia a burguesia e assistem a uma emissora que favorece somente a classe dominante. O que a mídia não faz com a cabeça das pessoas...

Será que se orgulham também por ficarem revoltados com crimes de grande repercussão mostrados nos mínimos detalhes pelos programas sensacionalistas, a ponto de pedirem a pena de morte, a ponto de tentarem linchar o acusado?

Tal situação é curiosa, já que todos sabemos que milhares de crianças, adultos e idosos morrem todos os dias em razão da violência e da fome, mas nessas situações, ninguém se revolta...

Ninguém se revolta também com o transporte público, que vai de mal a pior, transportando pessoas como se fossem cargas, todas amontoadas... Mas tudo bem, um dia a carga humana consegue comprar um carro e aí estará livre do problema e é assim que tudo se resolve nesse país de miseráveis: trabalham para comer e, se "deus quiser", um dia poder comprar um carro e uma casa, ocasião em que todos os problemas desse ser humano estarão resolvidos... Só que poucos conseguem fazer isso e milhares continuam em situação degradante!!!

Devem se orgulham também do preconceito enrustido e nojento que possuem, ao tacharem pessoas de acordo com a sua condição social, de acordo com a sua cor, de acordo com a sua opção sexual, se esquecendo que independentemente de qualquer coisa, trata-se de um ser humano, que merece respeito! Mas como definir respeito para um povo que não enxerga o outro, que faz o possível e o impossível para "subir na vida"? Afinal, o que os move é o dinheiro... Se ganha, ótimo, que se dano o outro, se não ganha, planeja formas de transformar pessoas em degraus, usando-as...

É incrível ver tudo isso e saber que todos vivem de braços cruzados, esperando que um dia as coisas melhores, porém não se manifestam para mudar nada...

Fazer o quê? Tudo é um a festa...

Daniela Godoi

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A Teoria da Conspiração

Em vez de Gilberto Kassab estimular a expansão do transporte de massa, pôs a culpa no peão revoltado, que passa mais de 4 horas preso dentro de uma condução

Leio nos matutinos que o alcaide de São Paulo, o ‘democrata’ (?) Gilberto Kassab, atribuiu a responsabilidade pela lentidão no trânsito paulista à ação deletéria de alguns “conspiradores”, que estariam empenhados, por meio de verdadeiros atos de ‘terrorismo’, a estabelecer o caos na ordeira e pacífica capital do capitalismo de Bruzundangas. O primeiro ‘terrorista’ flagrado com a boca na botija, ou melhor, com os pregos na borracha, seria o pedestre que furou os pneus de um ônibus e o fez atravancar um corredor viário, depois de tentar embarcar – sem êxito, claro – rumo ao serviço a fim de ganhar seu pão de cada dia.

O Sr. Kassab, que há poucos meses ocupava as manchetes da grande imprensa por decretar a interdição espetacular de um dos mais refinados bordéis da burguesia paulista, é realmente um pândego de primeira linha. Em vez de estimular a expansão do transporte de massa no caótico condomínio que ele administra, decidiu catar chifre em cabeça de cobra e, para não trair o costume da terrinha, pôs a culpa no peão revoltado, que passa mais de 4 h de seu dia útil preso dentro de uma condução, chegando atrasado ao trabalho e regressando bem tarde à própria casa, que, durante a semana, nada mais é do que um reles dormitório para milhões de trabalhadores da República.

Pelo visto, a teoria conspiratória do capataz paulistano já logrou imediata adesão dos pares democratas. Reunidos em Salvador para o lançamento da candidatura de ACM Neto (ave, misericórdia!) ao trono da velha capital baiana, eles ouviram o alucinado César Maia (saravá, sua banda!), que há pouco desfilava sua desfaçatez por Paris, invocar os orixás da Boa Terra e pedir-lhes que conjurassem os ventos mais pródigos a fim de soprar o malsinado mosquito da dengue em direção ao Oceano Atlântico.

O caso da epidemia (ou seria “epidemaia”?) carioca, aliás, tem nos legado algumas pérolas notáveis do Festival permanente de Besteiras que Assola o País, o nosso FEBEAPÁ século XXI. Que o diga a brilhante medida adotada pelo Kaiser para erradicar a doença, instruindo os escolares a vestir meias e calça comprida a fim de dissuadir o mosquito de seus nebulosos planos (será que ele se inspirou na fartura de roupas da Família Real ao desembarcar no Rio em pleno verão de 1808?). Mais atento à sucessão municipal e ainda esperançoso de eleger sua herdeira ao trono, o famigerado alcaide insiste em dizer que não há epidemia alguma – de fato, como diria o irreverente José Simão, são apenas 30.547 casos isolados e 70 mortos que, decerto, se esqueceram de pôr suas meias...

Os mosquitos devem estar, realmente, tramando alguma “conspiração” neste paraíso de (des)equilíbrio ecológico que o grande capital tratou de devastar. Há menos de um ano, era o bando da febre amarela que aterrorizava os caboclos da Amazônia e do Planalto Central. Agora, chegou a vez do Aedes aegypti. O que diria o bravo Oswaldo Cruz, se vivo fosse, deste pitoresco quadro sanitário? Se nada fugir ao script, alerta Simão, em breve teremos epidemia de amarelão, barriga d’água e bicho do pé... O leitor duvida?

O pior é que os ‘teóricos’ das tramas conspiratórias não se restringem a Bruzundangas. A praga, infelizmente, se manifesta em vários rincões da Pátria Grande, conforme atesta o Sr. Uribe, que, teleguiado pelo patrão Bush, acusou as FARC de terem comprado urânio enriquecido para preparar atentados letais contra o governo da Colômbia. Para quem não se esqueceu do conto das “armas químicas” de Saddam Hussein – que nunca existiram, mas justificaram o genocídio infligido pelos EUA ao Iraque –, a história soa até ingênua. Contudo, são esses autênticos conspiradores e inimigos do povo que seguem ditando as ordens em várias nações ao sul do Rio Grande; são eles que roubam a terra dos lavradores e acusam os movimentos sociais de banditismo. Já não seria hora de conjurar os ventos da mudança e varrer essas criaturas pelos ares, com as bênçãos de Oxalá?

Luiz Ricardo Leitão é escritor e professor adjunto da UERJ. Doutor em Literatura Latino-americana pela Universidade de La Habana, é autor de Lima Barreto: o rebelde imprescindível (Editora Expressão Popular).

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Mentiras

O Brasil é o país das mentiras bem contadas. Uma delas, a de que vivemos num paraíso racial. Mas não é considerada crime a frase escrita na Academia de Polícia de São Paulo: “Negro parado é suspeito; correndo é ladrão”.